quinta-feira, 1 de novembro de 2007

REVISAO BIBLIOGRAFICA

REVISAO BIBLIOGRAFICA

Sao relativamente escassos os estudos a respeito da contribuição do protestantismo a cultura brasileira, principalmente analises sobre o ethos protestante, ou seja, aquelas características que uma vez inseridas permaneceram como testemunhas da presença desse grupo. Sobretudo é desconhecido os efeitos práticos do protestantismo ( se é que existe) na construção da modernidade brasileira.
Quais as razoes desse desconhecimento do protestantismo e de sua cultura? Destacam-se duas razoes: A primeira razão se relaciona o fator religioso. Enquanto religião, o protestantismo foi entendido como religião exótica ou diferente, seus seguidores acabaram por formar nichos culturais. A segunda razão é que o estudo cientifico da religião, demorou muito para acontecer. E quando isso ocorreu foram os pentecostalismo que se tornaram objetos de estudo
Os batistas se justificam como objeto de estudo até mesmo por sua antigüidade e presença no Brasil, acrescentando a isso que são eles hoje a maior denominação do protestantismo de missão entre nós , mas seu pensamento não foi ainda objeto de muitos estudos.
Para que possamos entender melhor o grupo batista é necessário que busquemos também situar os protestantes no debate acadêmico. Há muita biografia de propagandistas e pastores protestantes. São algumas vezes “memórias”como as dos missionário batista Salomão Ginsburg, judeu convertido, por isso o título – “Um judeu errante no Brasil”. São obras muitas vezes romanceadas. Acredito que podem ser mais trabalhadas como fontes, pois o número de informações e documentos que apresentam permitem ao historiador encontrar dados valiosos. O historiador neste caso deve estar atento para diferenciar o que é memória construída e história. Na medida em que ao se construir uma memória um grupo acaba pinçando fatos de acordo com a conveniência.
O pesquisador pode encontrar rico material nestes trabalhos, podendo usar como referencia a abordagem de Pierre Nora, percebendo que a Memória/história como uma dupla que está sempre em embate. A história é vitima da memória, e por suas vez esta sempre vai ser criticada pela história. Esse deve ser o papel da história diante desse matrial – a de desconstruir, ser analítica.
Por muito tempo o debate acadêmico em relação aos protestantes ficou muito circunscrito aos historiadores eclesiásticos ( historiadores da própria denominação[1]) , sociólogos e antropólogos. Poucos são os historiadores que escreveram sobre o tema. Esse silencio dos historiadores em geral, acabou por estabelecer um certo descompasso, dessa forma o que pude observar é que em muitos casos os historiadores eclesiásticos produzem textos sobre o protestantismo brasileiro desvinculados da realidade social, precisamente, do contexto histórico. Sendo que muitos deles seguem uma linha mais facctual.
Só recentemente tem-se a preocupação de uma produção, trabalhando sim, com uma história problematizadora. Essa preocupação nasceu sobretudo de dois núcleos: a Universidade Metodista de Piracicaba e a Faculdade Teológica Batista de São Paulo, mas infelizmente muitos dos trabalhos destes dois centros de pesquisa ainda não foram publicados ou não estão disponíveis para o público.
No entanto, toda essa bibliografia nos traz elementos essenciais para que possamos analisar e estudar o objeto central desse trabalho.
Não é possível entender os batistas sem passar pela história dos protestantismo, como já foi citado neste trabalho. Aliás, hoje já é comum falar não em protestantismo, mas em protestantismos com bem ressaltado por Antonio Mendonça Gouveia. Pois diferentemente “da tradição católica, o protestantismo que surgiu da Reforma do Século XVI foi muito mais longe na variedade de tendências e instituições que gerou, e desde cedo revelou-se incapaz de conservar-se unido”. ( 1990: p.26)

Este trabalho estará abordando a historiografia sobre os protestantes por três caminhos:

1o – Os protestantes de uma forma geral
2o – Os protestantes nos EUA
3o – Os protestantes no Brasil
4o – O grupo Batista.








1o Caminho: Os protestantes de uma forma geral

Um dos primeiros autores a tratar a questão do protestantismo no Brasil foi Emile Leonard - O Protestantismo brasileiro, 1963.
Este francês, professor na Escola francesa de Altos Estudos, foi indicado por Lucien Febvre para ser professor de história da religião da USP. No Brasil, Leonard aproveitou a oportunidade para dar prosseguimentos as suas investigações sobre o protestantismo.
Escreve dessa forma uma obra pioneira na história do protestantismo brasileiro. Se ele se interessou pelo protestantismo no Brasil foi porque cria que tal estudo o ajudaria a entender a história espiritual européia.
Neste livro o autor faz uma comparação com o protestantismo que surgiu na Europa e o protestantismo no Brasil. Segundo o autor o protestantismo no Brasil surgiu em um contexto com as condições eclesiásticas, políticas e sociais muito próximas das condições da Europa. Essa posição vai ser muito criticado, principalmente por Antonio Mendonça e Rubem Alves.
No entanto os estudos de Leonard, especificamente este livro se torna importante por apresentar uma lista de fontes e bibliografias, que, embora muitas já tenham desaparecido permitem apontar para alguns caminhos possíveis de serem percorridos. Ou seja, é um excelente roteiro para aqueles que desejam pesquisar o protestantismo. Portanto o mérito deste trabalho é sistematizar a questão do protestantismo no Brasil. Apresentando também o nome de famílias inteiras de fazendeiros de São Paulo que se converteram ao protestantismo.Para Leonard, estas famílias não se convertiam para angariar privilégios políticos, na medida em que ganhavam inimigos, mas por anseios da alma, ainda que depois convertessem sua fé em algo positivo politicamente. ( marcavam sua diferença através de um comportamento dito “honesto, integro”) .
Tópicos interessantes são mostrados por Leonard como: as reações católicas, a postura dos protestantes em relação a questão da abolição, a questão da maçonaria. Como o próprio autor diz, ele não pretendeu esgotar o assunto, mas apontar possíveis caminhos para futuros pesquisadores. Portanto essas questões não são analisadas e debatidas por ele em profundidade, apenas apontadas.
A importância se encontra no fato de mostrar também que no império os protestantes não tinham uma preocupação em difundir sua fé. Esses não eram refugiados por motivos religiosos, assim a preocupação com a pureza da fé os induz a se fecharem, inicialmente.
O principal centro protestante durante muito tempo esteve na Província de São Paulo. É interessante que ele destaca que foi só com D. Pedro II que apareceram as missões estrangeiras, a partir de duas causas:
1 – as disposições do próprio imperador pelos seus conhecimentos e práticas que poderiam prestar. “Era dos paises protestantes que ele esperava a imigração, grandemente necessária ao Brasil na realização do progresso e da civilização”( p. 136)
2 – a necessidade de imigrantes.
Ele ainda diz que essa idéia apareceu em uma série de artigos publicados no Jornal do Comércio”. O autor portanto mostra que desde o período do segundo reinado a idéia de que os protestantes poderiam trazer o progresso já estava crescendo e sendo fomentada pela própria elite no Brasil.
Ele mostra também que inicialmente o protestantismo penetrou na alta sociedade brasileira. Como exemplo, ele cita Dr. Kally, vizinho do imperador em Petrópolis, que lutou para que os protestantes aqui no Brasil conseguissem alguns direitos.
O primeiro núcleo protestante verdadeiramente brasileiro foi criado em 1867 em Brotas por missionários presbiterianos
Leonard no entanto subestimou o trajeto que o protestantismo missionário fez para chegar ao Brasil, ao passar antes pela Inglaterra e pelos EUA. Em função dessa trajetória protestantismo no Brasil apresentou fortes intenções pragmáticas e pretendia ser elemento transformador da sociedade através da transformação dos indivíduos. Esse traço levou Emile a comparar o protestantismo europeu como o Brasileiro e dizer que o europeu tem muito mais uma preocupação com o espiritual ( oração) enquanto o brasileiro desmerece essa nível ( enfatizou o trabalhar) . Ele não percebeu a influência dos EUA nessa trajetória. Isso porque nos EUA os puritanos trabalharam para construir uma nação e no Brasil o protestantes também trabalharam não mais para construir uma nação, mas para transforma-la. Essa idéia pragmática se encontra até hoje na hinologia cantada pelos batistas
“Vamos nós trabalhar, os famintos fartar,
para a fonte os sedentos depressa levar;
Só na cruz do Senhor nossa glória será,
Pois Jesus salvação pela graça nos dá!
No labor com fervor a servir a Jesus .
Com esperança e fé e com oração,
Até que volte o Redentor”. [2]

Essa transposição do protestantismo norte-americano trouxe a idéia de uma preocupação com o tempo, o crente não pode ficar ocioso, não pode descansar. Assim todo o tempo é preenchido com algumas atividade. A igreja até os dias atuais consegue “agendar”seus membros todos os dias com pelo menos uma atividade.
Por isso a comparação pura e simples do protestantismo brasileiro com o europeu traz alguns problemas. Em termos gerais, como bem sintetizou Siegfried, três fatores entraram na formação religiosa do povo americano: o puritanismo, que comportava o dever missionário e uma conjunção íntima entre religião e vida prática, o iluminismo.[3]
Surgiu, portanto, uma curiosa amálgama que Leonard não pode perceber entre o pessimismo inicial, incluído na afirmação do pecado original, e a concepção rousseauniana, de um homem naturalmente bom. Assim,
Nascido calvinista e pessimista, o americano se revela discípulo de Jean-Jacques e confiante no futuro da humanidade. (...) O desenvolvimento, propriamente americano, do protestantismo é uma adaptação das doutrinas dos antigo mundo às condições do novo. Não se trata mais de uma religião pessimista de protesto, mas de uma religião otimista de colaboração. A concepção não é, no entanto, contrária à orientação dada por Calvino. É preciso santificar a sociedade”. (Siegfried Apud Azevedo, 1980,p. 199)


Leonard não conseguiu perceber portanto , que o protestantismo norte-americano manteve algumas ênfases puritanas, desenvolvendo umas e criando outras, que vieram a influenciar o protestantismo no Brasil.







2O CAMINHO: PROTESTANTES NOS EUA

A partir dos peregrinos que iam para os EUA começou a se gestar neste ambiente um novo perfil do protestantismo, produto que, segundo a analise de Tocqueville, “os americanos conseguiram incorporar um ao outro e combinar maravilhosamente: o espírito de religião e o espírito de liberdade” ( Tocqueville, 1987, p. 42) . A origem das idéias aí fermentadas era o protestantismo, especialmente o calvinismo puritanizado. O que ocorreu nos EUA transformou essas idéias. Foi este novo protestantismo que correu o mundo. Entende-lo, como já colocado neste trabalho é indispensável para se entender o pensamento e a prática protestante ( batista, inclusive, como é o propósito desta pesquisa), mesmo no Brasil.
Destaco para esse entendimento dois textos contidos no livro organizado por SACHS Brasil e EUA: religião e identidade nacional.
Este livro é interessante, porque apesar de não estar focando o meu tema, ele no entanto faz uma trabalho comparativo do Brasil com os EUA. O viés para essa comparação foi exatamente a religião. Destaco portanto dois textos o primeiro de Emory Elliot – Religião, identidade e expressão na cultura americana: motivo e significado. P. 113
Ela mostra como o sentido de missao nacional ainda está muito presente no imaginário da população americana através do artigo “How the Bible made américa”,Newsweek, 27 de dezembro de 1982, pp.44-51.
Para mostrar que os EUA são uma nação cuja ideologia, língua nacional e sua própria identidade cultural estão inextricavelmente entrelaçadas com um conjunto de idéias e metáforas religiosas, presentes desde o inicio e que portanto vieram para o Brasil com seus minissionários. A autora trabalha principalmente com as idéia de Bercovitch que já havia observado que os primeiros pais da América já a haviam definido como um símbolo que foi investido de todo um conjunto de valores e amplas abstrações, como liberdade, autonomia, igualdade, progresso, pureza moral, justiça para todos e oportunidade ilimitada de sucesso para o indivíduo autoconfiante, que constitui a classe média, o American Way of life capitalista.. Bercovitch destacou o uso que os puritanos fizeram da tipologia bíblica, a fusão – promovida pelos primeiros doutrinadores – desta linguagem com os ideais políticos e a repetição desta fórmula em termos de retórica que, eventualmente, tornou-se aceita como algo inquestionável, um consenso ideológico que investe a palavra “América”de um significado tanto religioso quanto político. Esta “consagração simbólica” capacita os americanos a identificar a nação com certas idéias transcendentes, como Destino Manifesto e A Cidade sobre a Colina, que inspiram o que deve ser chamado de fé e devoção “religiosas” por parte dos seus crentes.
Um outro texto que separei neste livro é do próprio Bercovitch – A retórica como autoridade: puritanismo, a Bíblia e o mito da América.
Ele mostra como os puritanos tomaram posse da palavra América , designando a América como texto e depois interpretando o texto como eles mesmos. Foi este o seu legado: um Novo Mundo, cuja novidade é moral ou espiritual, e que conseqüentemente vai alem de uma definição geográfica.
“Os emigrantes da Nova Inglaterra tiveram uma idéia melhor: descobriram a América na Bíblia. Os puritanos estavam preocupados com a exegese, não com a invenção. Aos seus olhos a América era uma profecia. Sua interpretação centrava-se no sagrado, não na história secular. Eles não buscavam os símbolos corretos, mas sim os textos verdadeiros ; e encontravam os textos que procuravam nas passagens bíblicas que os primeiros protestantes identificaram como significando a “moderna Igreja de Deus”. P. 149


















3o – OS PROTESTANTES NO BRASIL
Já foi sinalizado neste trabalho que os primeiros colonos norte-americanos, desejavam construir uma civilização sobre a colina abençoada por Deus, os primeiros protestantes brasileiros também almejavam a conversão de todos os cidadãos como porta de entrada para a civilização, contra a barbárie do atraso.
São diversas as denominações protestantes que se implantam no Brasil. Para entender a entrada dos protestantes no Brasil e suas concepções aqui, levantei abaixo alguns livros essenciais.
Rubem Alves em Protestantismo e repressão, 1979. Este autor é considerado um dos mais importantes analista do protestantismo brasileiro foi um dos que mais se dedicou ao estudo do protestantismo no Brasil. Quem está interessado em entender a linguagem e o modo de pensar protestantes precisa ler este trabalho pois nele o autor se dedica aos vocábulos importantes para entender as representações e concepções protestantes.
O objetivo dele é descrever o espírito do protestantismo em questão elucidando, por um lado, as suas emoções fundadoras e, por outro, a estruturação de mundo que se constrói sobre estas emoções. Procurando também analisar o momento de conversão, as categorias fundamentais pelos quais os protestantes constroem o seu mundo. Assim, como a ordem moral, tal como ela se apresenta cristalizada no discurso e na prática da disciplina eclesiástica.
Segundo o autor não existe nenhuma ligação entre o Protestantismo e o mundo moderno. O protestantismo não se refere, de forma direta a tais questões. Trata-se de dois discursos totalmente diferentes ao nível semântico.
Ele aponta para 4 modelos interpretativos do espírito protestante:
Primeiro modelo - Afirma que sua liberdade, democracia, progresso econômico se pertencem e são frutos da Reforma.
Segundo - Exemplificado pela ideologia católica tradicional e pelos escritos polêmicos, concorda em que o Protestantismo tenha deflagrado a liberdade, tenha contribuído para a democracia, portanto gerou a modernidade. Mas nessa concepção a modernidade longe de ser um avanço, significou um retrocesso. A liberdade nesta concepção não é algo positivo, mas o responsável pela desintegração de nossa civilização, gerando a própria divisão dentro do protestantismo. A reforma sacralizou a consciência e dessacralizou o mundo.
Terceiro - Defendido por Troeltsch rejeita como falsa a pressuposição que une católicos e protestantes. O protestantismo em nada contribuiu para por um fim a Idade Média e para inaugurar uma recuperação do espírito medieval. Ele mesmo diz:
“O ponto fundamental a ser notado é que, de uma perspectiva história e ideológica, o Protestat foi, antes de mais nada, uma simples modificaçao do Catolicismo, na qual a formulação católica dos problemas foi mantida, enquanto que uma resposta diferente lhes era oferecida”. ( Troeltesch, Apud por Alves, 1979, p. 87)

Quarta interpretação ligada a Weber e Tillich, que vê a afinidade entre o espírito do Prot e o espírito da modernidade, mas que entende a modernidade e a liberdade como sendo incompatíveis. No entanto, Rubem Alves entende que o Brasil não conheceu o tipo de protestantismo descrito por Weber. Neste continente, a espiritualidade protestante não implicou numa ética de caráter político a exigir a transformação para a glória de Deus. Antes, a ética foi interiorizada e individualizada. O crente tende, por um lado, a se a adaptar “ao mundo tal como ele é”, já que”suas leis, jurídicas ou funcionais, são uma expressão da vontade de Deus”, e se comportar como um excelente “funcionário”interessado em aumentar a eficiência das estruturas existentes. Por isto ele é “o bom empregado, o bom funcionário, o bom cidadão, aquele que obedece as regras do jogo, tais como foram impostas” (Alves, 1979, p. 127).
Para o autor essa preocupação em transformar o mundo não foi uma fala presente desde o inicio no discurso protestantes. Essa preocupação começou a surgir muito mais como uma resposta a certas perguntas da própria sociedade nos anos 50, como: o problema da pobreza, das desigualdades, das injustiças. Nesse momento sim, diante dessas circunstancias foi pensando um tímido projeto para o Brasil.
Discordo nesse ponto, a preocupação em transformar o mundo foi uma característica sempre presente na discurso e no projeto protestante. O que pode ter acontecido é que nos anos 50 essa preocupação assuma uma outra forma ou ênfase. No entanto o que facilitou a entrada dos protestantes no Brasil foi justamente apresentar uma alternativa, senão explicita, mas pelo menos na entrelinhas ao povo brasileiro.
A explicação que ele concede a visão dos protestantes para explicar a razão do progresso é interessante. Pois, segundo este autor os protes não estão fazendo sua a tese de Max Weber. As razoes por que os paises protestantes são mais ricos que os paises católicos são de natureza teológica, espiritual. Riqueza é uma bençao divina aqueles que lhe são fieis, da mesma forma como subdesenvolvimento e pobreza são uma maldição aqueles que lhe desobedecem. (Alves, 1979, p. 230).
No entanto, focar o protestantismo na verdade , define uma direção de estudo e não necessariamente um objeto, como quer Rubens A Alves ( Alves, 1979, p. 27) , por ser este algo múltiplo e que não pode ser reduzido a um único conceito.
“A igreja católica se valeu dele ( o termo protestante) para se referir a todos os movimentos que dela se separaram a partir do século XVI, com o propósito de, com um só golpe, defini-los como movimentos heréticos. Estes, por sua vez, usavam o mesmo termo num discurso igualmente polêmico, a fim de afirmar entretanto, que só se manifestava na situação de confrontação com um inimigo comum, a Igreja Católica.”
( Alves, 1979, p. 27)
Aqui, cabe também ressaltar um outro ponto polêmico, ou, antes de penetrar no objeto de análise, é necessário entender os conceitos “protestante”, “batista”, no intuito de ter um pouco de precisão conceitual, inclusive porque tal denominação – Batista – não aceita o rotulo de protestantes. Consideram que não saíram dos Reformadores Protestantes: “A palavra batista nos sai do período apostólico como significação rica, autorizada, permanente no cristianismo puro.”( W.C. Taylor, 1939, p. 5)
O protestantismo hoje embora designe diversas confissões, estritamente só deveria descrever os luteranos, uma vez que o termo surgiu popularmente para designar os príncipes que, minoritários na Dieta de Speir de 1529, protestaram contra a ab-rogação do principio “Cujus regius, cujus religius”aprovado na Dieta anterior.
Pelo uso na história, passou a ser aplicado a todos os grupos religiosos decorrentes dos movimentos reformadores do século XVI: os matrizes ( luteranos, presbiterianos, calvinistas, anglicanos e anabatistas); os herdeiros ( congregacionais, batistas, metodistas) e os vice-herdeiros ( adventistas e pentecostais, entre os principais) .
No Brasil, o adjetivo (protestante) tem sua história entre os próprios protestantes, marcada pela aceitação majoritária ou pela recusa parcial do termo. Os grupos matrizes aceitam o designativo sem problemas, com alguns deles usando-o; dos herdeiros, os metodistas utilizam-no sem receios, mas congregacionais e batistas preferem o genérico “evangélico”, o mesmo ocorrendo com os vice-herdeiros.


Um outro livro do autor importante é Dogmatismo e tolerância, 1982.Este autor mostra que o século XIX foi para os protestantes, o que o século XV foi para a igreja Católica. Os protestantes sempre viram na sua religião a razão de ser do seu progresso econômico. A partir de Ruben Alves podemos criar dois triângulos que sintetizam essa idéia.

ESCOLAS/MENTE HOSPITAIS/CORPO


CONSTRUÇAO DE IGREJAS/ALMA

Se o protestantismo era um sinal de vergonha numa sociedade que se definia como católica romana era preciso construir de alguma forma uma diferencial que os colassem superiores a religião oficial. Dessa forma a identidade protestante sempre foi construída em oposição ao catolicismo. Ele defende, portanto, que o projeto protestante é muito mais uma forma de combater o catolicismo.
“Uma vez convertido, é necessário expressar a condição de salvo através de um novo estilo de vida. Max Weber, observou que para os calvinistas, o sucesso nos negócios era um indicio de benção divina. Aqui no entanto, os protestantes evidenciavam seu novo “status”espiritual não pelo sucesso financeiro, mas sobretudo por meio de um virtuosismo moral que os tornava diferente dos demais” (Alves, 1982 p. 62).

O além é um horizonte que os homens constroem para dar sentido e perspectivas a vida concreta no seu mundo social. Isto nos ajuda a entender melhor o projeto.
Durante muito tempo a historiografia protestante colocou a idéia que houve um transplante do protestantismo europeu ou até norte-americano para o Brasil. Corrente esta iniciada por Emile Leonard. Esta idéia passou a ser questionada a partir de Rubens Alves e mais recente Israel Belo de Azevedo. Os dois apresentam a idéia de que não foi um simples transplante do Protestantismo norte-americano. A pregação de salvação ganha um tom polêmico aqui para se diferenciar do catolicismo ( que também é cristianismo). O campo que se abria para a criatividade protestante era a prédica. Por trás dos vários discursos fervia as esperanças de uma regeneração da ordem social impulsionado pelo protestantismo ético, com raízes no racionalismo em oposição ao catolicismo mágico.
Dessa forma todos os textos teológicos inicialmente eram importados dos EUA recebendo interpretações aqui. Na verdade os protestantes brasileiros sempre tiveram uma série suspeita dos europeus já que esses bebiam e dançavam.
Um outro autor importante que merece atenção é o Ribeiro BOANERGES, Protestantismo e cultura brasileira, 1981. Boanerges é doutor em ciências pela Escola pós graduada de Ciências sociais da Fundação Escola de sociedade e política de SP. É pastor presbiteriano.
O autor aborda o período de 1860 e 1890 por isso não estuda os Batistas que iniciou sua implantação entre 1878 e 1882. Ele aborda somente os presbiterianos.
Segundo este autor o livro de alguns viajantes que passaram no Brasil como por exemplo, Kidder, que escreveu um livro sobre suas viagens ao Sul e no Norte do Brasil projetou a imagem para os norte-americanos do Brasil como um país vasto, acessível aos protestantes e como “um pais de missão”.
Apear deste trabalho ser muito factual, enganando a primeira vista, aqueles que pensam que vão encontrar uma analise profunda do impacto do protestantismo em relação a nossa cultura. Mesmo assim permite colher ricas informações.
Ele observa, por exemplo, que a aceitação do protestantismo se deu muito em função de um grupo de imigrantes protestantes já estarem enraizados no Brasil em vários pontos como – comércio, industria, marinha, tornando viável a implantação em função dessa acomodação.
Mostrando que desde o inicio o jornal foi percebido como um meio poderoso para divulgar o protestantismo. O doutor Kalley por exemplo utilizou os jornais da corte para propor a religião evangélica como alternativa à do Estado.
A imprensa é percebida como um púlpito de âmbito nacional e apoio para a catequese dos recém-convertidos e seus filhos. Essas informações são importantes para o meu trabalho, visto que a minha fonte e também o meu objeto de analise é o OJB. Apesar dele estar tratando dos presbiterianos, mostra como os protestantes perceberam a imprensa como uma espaço privilegiado para a divulgação de suas idéias.
Em 1864, por exemplo, a Igreja Presbiteriana tenta publicar seu primeiro jornal pela Tipografia universal de Laemmert. No entanto os irmãos Laemmert sofreram muitas ameaças e desistiram, a impressão passou para a tipografia Perseverança. Saiu do prelo em 5 de novembro de 1864. Só em 1879 os artigos passaram a ser assinados talvez pelo fato que antes eles eram distribuídos aos sacerdotes católicos romanos. Mostrando a utilização da imprensa como veiculo importante para atingir sobretudo a elite nacional, formadora de opinião.
O importante deste trabalho foi mostrar como nascendo a idéia de se criar escolas com o compromisso de oferecer uma educação diferencial ligada ao republicanos – “as filhas de republicanos, de emancipacionistas e até positivistas sofriam vaias nas escolas e seus pais as transferiram para a escola da Ser. Chamberlain – (Presbiteriana)
Este autor diz que a religião evangélica não foi estranha a nossa cultura, por isso pode se difundir com uma certa facilidade, no entanto ele não explica muito essa questão, e não analisa o contexto histórico e político desse período. Para esse autor a religião evangélica não estabeleceu nenhum projeto, mas conseguiram entrar nas aberturas que se iam formando após a independência do Brasil, mostrando principalmente que as moléstias sociais a partir de mudanças no sistema religioso. Não percebe grandes lutas sendo travadas ao contrário de outros autores como Ruben Alves que mostra que o corpo doutrinárias dos protestantes no Brasil vai ser elaborado principalmente diante das lutas com a igreja Católica, religião oficial no Brasil.
Outros autores também importantes são MENDONÇA, Antonio Gouvêa e FILHO, Prócoro Velasques, com o livro, Introdução ao protestantismo no Brasil, 1990.
Um dos livros mais recentes sobre protestantismo. O livro é produto de discussões de dois professores do Programa Ecumênico de Pós-graduaçao em Ciências da Religião, do Centro de Pós-graduaçao do Instituto Metodista de Ensino Superior.
É interessante porque é um dos primeiros livros que já tem a preocupação com o termos protestante. Os autores utilizam o termo “protestantes”, devido a complexidade deste grupo no Brasil. Ressalta principalmente a idéia já contida em Israel Bele de Azevedo de que o termo protestante no Brasil sempre foi carregado de preconceito “protestavam contra Deus”. Era uma das acusações católicas. Por isso a rejeição veemente de alguns grupos, principalmente os batistas ( acrescidos de outros fatores) deste termo, preferindo o uso de evangélicos.
O livro apresenta uma ótima analise da evolução histórica do protestantismo desde o messianismo norte-americano até o pentecostalismo brasileiro na década de 90 do século passado.
Mais uma vez defende a idéia que o protestantismo brasileiro foi uma projeção do protestantismo norte-americano, mas não aponta as diferenças desta projeção.
Ao contrário de Boanerges ele explica a aceitação da protestantismo no Brasil não como furto de semelhanças culturais, mas por um descompasso que existia entre a sociedade americana e a brasileira no momento em que o protestantismo foi inserido no Brasil. Por isso aqui este grupo foi recebido como vanguarda do progresso e da modernidade. No entanto ele aponta para o fato de que o grupo que aqui chegou não era representante da modernidade americano, mas estavam ligados aos grupos conservadores nos EUA. Um exemplo citado pelos autores é o fato de que os batistas no Brasil serem mais intransigentes em seus princípios e identidade do que o de outras partes por serem originários da Convenção Batista do Sul dos EUA, muito conservadora.
Os autores também apontam para o fato de que os grupos protestantes históricos sempre estiveram ligados a valores burgueses e destes eram representantes. Eles citam dos batistas serem essencialmente urbano. Quando em 1881 seus missionários Willian Bagby e Zacarias Taylor foram enviados para o Brasil, atingiram principalmente as áreas urbanas onde a presença física da Igreja Católica constituía serio obstáculo. Por isso o crescimento inicial desse grupo foi lento e difícil. Só com o advento da República é que começaram a se desenvolver, tornando-se a partir disso a maior igreja tradicional protestante de origem missionário. Por isso em seu jornal sempre reflete o vinculo e a defesa da Républica. Uma outra característica apontada por esses autores em relação aos batistas é sobre a ética rigosa que este grupo apresenta.
Estabelecendo assim linhas mais nítidas e seguras em relação a sociedade e oferecendo padrões de identidade mais seguros. Igreja de classe média ( Até hoje esse grupo é conhecido por ter na classe média uma grande parcela de seus membros.) não são igrejas populares, sendo mais concentrada nos grandes centros populacionais.
Ele apresenta também o poder com que o racionalismo penetrou no protestantismo brasileiro ( acrescento aqui, principalmente nos Batistas) . Os missionários encontraram aqui uma religião estabelecida por isso precisavam mostrar sua “falsidade”. Era a luta da “verdade” contra o “erro”; da “razão”, contra “tradição”. Os sermões segundo esses autores se tornaram cada vez mais peças aprimoradas de oratória. Inclusive Rubens Alves já havia citado que o “protestantismo é cartesiano, ama as idéias claras e distintas”. ( p. 190)
A historiografia da inserção do protestantismo no Brasil tem sido feita tradicionalmente sem uma analise da cultura brasileira ( Boanerges até pretendeu fazer isso, no entanto ao ler seu livro percebemos uma preocupação mais factual, do que uma analise da cultura brasileira) e da igreja católica. Esta tem sido a prática dos historiadores eclesiásticos e até mesmo de Leonard que apesar de propor um estudo de esclesiologia e história social não estabeleceu um dialogo com a sociedade brasileira.
Mendonça e Procoro estabeleceram um dialogo maior entre protestantes e sociedade brasileira. Destacando principalmente durante o século XIX o Brasil voltava-se com admiração para os modelos anglo-saxões de pensamento e progresso. Acima de tudo desejava-se assimilar idéias e práticas que tinham transformado os anglo-saxões em líderes.
“A semelhança do ideário-português do “reino de Deus” por Portugal, que comandara a expansão lusitana do século XVI, os EUA se sentiam depositários da missão divina de levar aos povos os benéficos do Reino de Deus na terra – “Destino manifesto” ( P. 73). Eles mostram dessa forma que o segmento liberal da sociedade brasileira adepto da ideologia do progresso ansiava por uma nova educação que substituísse o sistema escolar jesuítico. Os sistema educacional que os missionários norte-americanos trouxeram obteve grande êxito junto a elite brasileira.
Eles apontam também para o fato de que a empresa missionária no Brasil se divide em dois segmentos:
Educacional – voltado para a elite.
Evangélico – voltado para as massas pobres.
Os liberais contavam com a idéia da conversão individual, de que as relações sociais e civis seriam rompidas caso o protestantismo tivesse êxito. Pois estavam convencidos que só uma ruptura de mente na sociedade brasileira abriria caminho para uma nova sociedade.
Esse protestantismo se confundia com a cultura superior dos países anglo-saxoes, branca e protestante.
Os autores perceberam portanto as formas do protestantismo dialogar com a sociedade, principalmente assumindo a escola com uma forma de entrar na elite. Essas escolas então segundo esses autores tinham diversos projetos entre eles:
Difundir uma cultura diferente e em oposição a cultura difundida pelo catolicismo. “Tornar-se protestante, na perspectiva analisada, implica deixar de ser brasileiro e latino para culturalmente tornar-se anglo-saxão” ( p. 230)
Formar uma elite que se não fosse protestante, pelo menos tivesse sido influenciada pelos valores e princípios deste grupo.
Evangelizar as famílias, na medida em que o trabalho dos professores não se limitava a sala de aula.
Este trabalho portanto, é uma excelente analise sobre a relação do protestantismo com o catolicismo e a sociedade brasileira no século XIX. A critica que se pode fazer a esse livro é o fato de que seus autores por objetivar o ecumenismo não tomaram uma posição minimante neutra, sempre em suas conclusões propõem alternativas, como por exemplo, “A verdadeira conversão deve estar voltada para Deus e seus propósitos, não para doutrinas comportamentais ou culturais” ( p. 230) . Propõe inclusive, a recuperação da cultura brasileira, que o protestantismo anglo-saxões tentou eliminar. Dessa forma as analises são comprometidas por essa visão engajada com o ecumenismo, chegando ao ponto de cair em extremismos como constatar que a cultura brasileira perdeu muito de seus elementos com a inserção do protestantismo, esquecendo-se que uma cultura nunca é transportada homogeneamente, mas transformada e absorvida de maneiras diferenciadas não se tornando a outra, mas a nossa cultura. No Brasil, o que chegou foi o protestantismo norte-americano, transplantado da Europa. O transplante de um transplante é o que se tem aqui. E nem por isto ele é um protestantismo menor. O protestantismo brasileiro ainda é protestantismo. Se é verdade que foi transformado em religião civil nos EUA, também é verdade que foi transformado aqui numa contra-religião civil. Percorrer esse itinerário ajuda a compreender o modo brasileiro de ser protestantes.
Pode-se também colocar que Prócoro Velasques Filho na mesma tradição critica de Rubens Alves interpreta o protestantismo brasileiro como uma anti-Reforma, pela perda, operada já nos EUA de onde vem, da ênfase na justificação pela fé.
Um outro nome muito citado no estudo sobre os protestantes no Brasil é o de Jether Pereira Ramalho, Prática Educativa e Sociedade, 1976. Este trabalho realizado por um sociólogo, foi o primeiro a estudar as atividades educativas dos colégios protestantes no Brasil, com uma analise mais elaborada, deixando de lado simplesmente uma narração factual. Elabora , de forma clara e precisa, uma síntese do desenvolvimento histórico do liberalismo e seus princípios fundamentais ideológicos. Analisa, com rigor e profundidade, os discursos e programas dos colégios – Instituo Mackenzie, Colégio Batista do Rio de Janeiro e Instituo Bennet de Ensino, para detectar a presença e influencia ideológica que neles se encontram. Apresenta principalmente os princípios organizatórios e ideologia que embasavam a prática desses colégios, que nos ajuda a perceber a influência do liberalismo no projeto educacional dos protestantes que no Brasil chegaram.

















4o – O grupo Batista.
OS batistas brasileiros que são o meu objeto de analise, portam um certo tipo de liberalismo. Sua prática se inscreve numa tradição liberal, diferente da tradição brasileira, porque alimentada da experiência batista européia e norte-americana. Para entender um pouco melhor esse grupo são necessários algumas leituras.
Lourenço Stelio Rega com sua tese de Mestrado em Educação, A Educação Teológica Batista no Brasil: uma analise história de seu ideário na gênese e a sua transformação no período de 1972 a 1984, 2001.
Este trabalho é importante porque faz parte de um novo grupo ligado a Faculdade Teológica Batista de SP que tem pensado os protestantes de forma mais problematizadora.
Portanto para entender um pouco a entrada dos Batista no Brasil este trabalho se torna excelente, principalmente porque ele explica as teorias sobre a gênese batista. Descrevendo três teorias clássicas: 1- relação histórica anti-pedobatista ( batismo infantil). Entre os autores que esposam essa proposta ele cita: Tomás Crosby, Joseph Iviney, C. A. Ramseyer, Richard Cook, Tomas Armitage, Albert H. Newman e o historiador sueco Gunnar Westin. O que se tem nessa propsta é uma tentativa de demonstrar que havia uma linha completa do anti-pedobatismo interligada desde os apóstolos até os batistas modernos.
2 – Sucessão apostólica ou teoria JJJ ( João/Jesus/Jerusalém. Os principais autores que esposaram essa teoria foi G.H. Orchard, David Benedict, S.H. Ford, Willian Cathcart, W.A. Jarre e principalmente J.M Carrol, cuja obra foi traduzida ao português sob o título O rastro de sangue e traz um gráfico cronológico procurando demonstrar a linha sucessória dos batistas modernas a época do cristianismo primitivo.
3 – Origem batista entre os separatistas ingleses. Neste caso os batistas surgiram no século XVII na Inglaterra como uma parte do processo do movimento separatista que veio de um outro movimento mais amplo conhecido como puritanismo. O defensor dessa idéia foi William Whitsitt
A teoria exposta por Vedder, Torbert e Azevedo é mais fácil de ser aceita ( e também defendida neste trabalho), pois, entre outros fatores, não vilipendia a pesquisa histórica, enquanto que as outras teorias demonstram não tanto um caráter historiográfico, mas teológico-polemico. Assim, pode-se fazer distinção entre a história do batismo ( pedo-batismo, religião estatal, forma do batismo), a história dos principais geralmente esposados pelos batistas modernos e a história da denominação batista. Sem contar que não há registros históricos que comprovem ser o sucessionismo preocupação entre os batistas do século XVII.
O desejo de influenciar o país com o Evangelho no momento de uma forte mudança sócio-político, como a da implantação da República, indicaria a necessidade de fortalecer a Capital Federal com todos os recursos possíveis, tanto no âmbito financeiro, quanto no de mão de obra especializada. Influenciar o Brasil era o lema que interassava aos batistas, naquela época ainda pequeno, mas liderado pelos missionários americanos. Essa irradiação de influencia é lembrado pelo próprio W. C.Taylor quando diz que “é principio fundamental do trabalho missionário apostólico fundar centro de onde o evangelho possa irradiar-se”[4].
Ou seja, a implantação do projeto batista para o Brasil exigiria mão de obra capacitada e treinada. A importância deste trabalho é que ele analisa e traça os detalhes do que seria a educação teológica batista no momento da construção de seus principais seminários teológicos. O autor mostra como os batistas perceberam que a obra teológica era indispensável, na medida em que havia poucos ministros batistas no Brasil e mais havia a necessidade de gerar um vinculo unificador do saber teológico. Interessante que ele destaca mais uma vez que esses seminários tinham uma visão pragmática, o objetivo era formar o homem prático para o trabalho. Mostrando que o eixo simbólico religioso batista, e de diversos grupos protestantes advindos dos EUA, indica que o núcleo do projeto pedagógico é aprender e trabalhar, conduzindo a educação no sentido instrumental típico de uma instituição de ensino, sem ênfase na reflexão
Um outro nome que trata da educação implantada pelos batistas no Brasil, é o de , José Nemésio Machado .Este é professor da UniversidadeMetodista de Piracicaba e tem dois excelentes trabalhos : A Contribuição batista para a educação brasileira, 1994. e Educação Batista no Brasil: uma análise complexa, 1999.
O primeiro livro foi sua tese de Mestrado pela mesma universidade que hoje é professor, o segundo tese de doutorado.
Os dois livros constituem importantes analises para compreender o processo de desenvolvimento do ministério educacional no meio evangélico brasileiro. O autor mostra os aspectos históricos e sociais desde o nascimento da primeira instituição batista de ensino no Brasil até os dias atuais. Apesar do autor focar muito mais o Colégio Batista Brasileiro de SP, ele dá algumas dicas importantes para entender os primeiros propósitos dos Batistas no Brasil.
Os batistas praticaram uma educação diferenciada e registramos sua proposta para melhor explicitação desses elementos.
O livro é interessante também porque mostras as diversas teorias sobre a origem dos batistas, e um pouco da história desses desde os EUA até sua chegada entre nós. O livro não problematiza determinados fatos, mas contribui por relatar alguns fatos cronológicos como o primeiro trabalho batista entre os brasileiros que datam de 1860.
“Nós, evangélicos, estamos plenamente convencidos da superioridade de nossos ideais, mas o povo culto em geral não aceita o Evangelho antes de ficar convencido da superioridade da cultura evangélica”. (Crabtree Apud, Nemeésio, 1999, p. 26) A partir desta frase ele mostra que na proposta para o Brasil o binômio evangelismo e educação norteou, desde o primeiro momento, a decisão da obra conjunta dos batistas brasileiros e os americanos.
Os pioneiros desejavam trabalhar para ajudar não só na questão do analfabetismo, entrave serio a obra de evangelização. Afirma que o problema do analfabetismo sempre esteve relacionado com o elitismo do ensino nas escolas católicas. Havia discriminação de crianças pobres, oriundas de famílias do povo. Portanto, o acesso a escola de parcela maior da comunidade carente era dificultado
O autor, nestes dois livros mostra os aspectos históricos e sociais desde o nascimento da primeira instituição batista de ensino no Brasil até os dias atuais. Os objetivos pretendidos, os alvos alcançados, o modelo de professor que desejavam, o modelo de aluno que estipularam. Nos dando indicações a partir desta leitura da visão de homem ideal ou melhor dizendo “cidadão ideal”que estas instituições desejavam moldar.
Quem estiver interessado em se aprofundar no pensamento batista, seus teologos tem uma produção, como : Zachary Clay Taylor, foi mais um jornalista e editor do que propriamente um autor, mas seu pensamento fincou raízes nos artigos ( publicados nos jornais seculares e nos próprios: “O Eco da Verdade”, “A verdade”, percursores do “Jornal Batista”) e nas traduções de vários livros bem como “A origem e história dos baptistas”, de S. H. Ford ( 1886)
Quem mais entendeu as linhas-mestras do pensamento batista foi Alva Bee Langston, professor de teologia no Seminário do Rio e autor, entre outros, de “A democracia batista” ( 1917), “O principio de individualismo em suas expressões doutrinárias” ( 1933) entre outros. Embora pouco lido por suas categorias muito rebuscadas, influenciou o pensamento do grupo batista a partir de sua cátedra.






CONCLUSÃO
Podemos perceber portanto que a questão do protestantismo brasileiro continua ainda, repleto de lacunas. Muitos dos autores acima analisados sempre demostram que hã ainda questões a serem analisadas, como por exemplo, a posição protestantes em relação a escravidão no Brasil. Encontrei várias informações que apontam para o fato de que os presbiterianos tiveram uma atuação ainda que pequena, mas assumiram uma posição em seu jornal que chegou a ser mencionada por Joaquim Nabuco, enquanto os batistas por serem um grupo mais conservador se silenciaram ( ?) . Estas e outras questões não foram abordados pela bibliografia existente, muito se contribui para o entendimento da educação que os protestantes estavam propondo, mas ainda há muito por se fazer. Esse silêncio principalmente da parte dos historiadores tem permitido que representações errôneas façam parte do senso comum. Fica portanto, aos historiadores a oportunidade e o convite para voltar ao passado protestante em busca de outros problemas, de outras janelas e portas.
Embora sendo expressivos, como já foi citado, pouco são os estudos acadêmicos voltados para esse grupo. Há mais uma preocupação dos seus próprios membros ( pastores, teólogos) em reconstruir e guardar sua história. A história do protestantismo no Brasil ainda é uma história cheia de lacunas e de mal entendidos. Muitos falam sobre esses segmentos, mas posso dizer que baseados no senso comum. Atualmente há uma preocupação em estudar muito mais as igrejas evangélicas ditas pentecostais e neopentecostais e pouco sobre as chamadas históricas ( os grupos protestantes originários da Reforma são elas: o luteranismo; o anglicanismo; o presbiterianismo; o congregacionalismo; o metodismo e o movimento batista). Espero, no entanto, contribuir na construção dessa história.
Além dessas dificuldades com a bibliografia, escolher as fontes também se mostrou uma tarefa trabalhosa pela quase ausência de arquivos sistematizados que contemplem tal tema, pelo menos nas cidades do Rio de Janeiro. Como exemplo, tem-se a Primeira Igreja Batista de São Gonçalo, que embora fundado em 1919 , seu acervo documental é datado de 1958. Por ter se perdido a documentação anterior, no entanto, há uma tentativa , por parte da instituição , de resgatar sua história através do registro oral, conseguido por meio de entrevistas com os membros mais antigos da Igreja. Há, a partir dessa preocupação uma organização nos documentos a partir de 1970.
A contribuição deste trabalho é unir protestantismo , aqui em sua versão batista, e o discurso político, realizando uma analise histórica dos conceitos derivados dessa discussão, não esquecendo nunca que este discurso se deu em um tempo e espaços definidos, o Brasil do final do século passado, numa tentativa de perceber como diversos fatores interagiram. E contribuir de forma a aumentar o estudo dos protestantes históricos no Brasil.
Dentro desta perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar o discurso de progresso e modernidade batista brasileiro que visava construir uma outra ou "nova" nação brasileira; utilizando OJB como manancial e veiculo para levantar estes discursos. E contribuir para o estudo dos protestantes históricos no Brasil, na medida em que a bibliografia sobre este tema é escassa. Os livros sobre este tema foram escritos por educadores, sociólogos, pastores , muitos deles numa escrita muito mais narrativa do que problematizadora.

... a história apenas existe em relação às perguntas que lhe fazemos
Paul Veyne, O Inventário das diferenças. Lisboa, Portugual: Gradiva, 1989, p. 6
















Bibliografia:

ALVES, Rubem A, Protestantismo e repressão. São Paulo: Ática, 1979.

_______________, Dogmatismo e tolerância. São Paulo: Paulinas, 1982.


AZEVEDO, Israel Belo de, São os batistas protestantes? São Paulo: Mocidade Batista,
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ELLIOT, Emory, “ Religião, identidade e expressão na cultura americana: motivo e
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BERCOVITCH, Sacvan, A retórica como autoridade: puritanismo, a Bíblia e o mito da
América. In: In: SACHS, Viola et al. Brasil e EUA: religião e identidade nacional,
RJ: Graal,1988.

LANGSTON, A B, O principio do individualismo em suas expressões doutrinárias ou
um exame dos alicerces das crenças batistas. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1917.

_________________, Verdadeira democracia. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista,
1917.

LEONARD, Émilie-G, O Protestantismo brasileiro. São Paulo: Aste, 1963.


MACHADO, José Nemésio, A Contribuição batista para a educação brasileira. Rio de
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_____________________, Educação Batista no Brasil: uma análise complexa. São Paulo: Colégio Batista Brasileiro, 1999.


MENDONÇA, Antonio Gouvêa e FILHO, Prócoro Velasques, Introdução ao
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RAMALHO, Jether Pereira, Prática educativa e sociedade, um estudo de Sociologia da
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REGA, Lourenço Stelio, A Educação Teológica Batista no Brasil: uma analise história
de seu ideário na gênese e a sua transformação no período de 1972 a 1984.São
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RIBEIRO, Boanerges, Protestantismo e cultura brasileira. São Paulo: Casa Editora
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TOCQUEVILLE, Aléxis de. A democracia na América. Trad. Neil Ribeiro da Silva. 3a
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[1] ANTUNES, Betty de Oliveira. Centelha em restolho seco. Rio de Janeiro: edição da autora, 1985.
Crabtree, A.R. História dos batistas do Brasil até o ano de 1906. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1937.
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PEREIRA, José dos Reis. Breve história dos batistas. Rio de Janeiro: Juerp, 1972.
UNDERWOOD, A.C. A history of the english baptists. London: Carey Kingsgate, 1956.
Citando apenas alguns.
[2] Hino 422 do Cantor Cristão – “Trabalho Cristão”.

[4] Hallock & Ferreira, 1998, p. 29 e 30

Um comentário:

edpaegle disse...

Andréa, achei muito interessante o teu blog. Fiquei pensando que de uma certa maneira o silenciamento dos protestantes brasileiros em relação a sua própria história, também não seria da sua dificuldade de fazer um autocrítica. Pensar sobre o passado pode ser doloroso e ás vezes evitar esse confronto é mais anestesiante e cômodo para as lideranças eclesiásticas. Também não seria uma influência de uma "cultura protestante de gueto" do que tudo que é produzido, inclusive a sua história seria para consumo interno.

Um abraço, Eduardo Paegle